sexta-feira, 8 de fevereiro de 2019

ACADEMIA MACAUENSE DE LETRAS E ARTES


A Academia Macauense  de Letras e Artes foi criada em 10 de agosto de 2018 e instalada no dia 06 de dezembro de  2018. Primeiro presidente poeta Horácio Paiva e primeiro secretário – Tião Maia

HORÁCIO DE PAIVA DE OLIVEIRA, 1º PRESIDENTE


Horácio de Paiva Oliveira (foto) nasceu em Macau, RN, em 1945. Publicou o seu primeiro poema aos 16 anos. Aos 18, com outros jovens escritores, criou em Natal o “movimento dos novíssimos”, que mantinha uma coluna literária no antigo jornal católico “A Ordem” (“Coluna dos novíssimos”). A vida intensa dedicada ao movimento social retardou o lançamento de seu primeiro livro de poesias (“Navio entre espadas”), que somente veio a lume em 2002. Está incluído na antologia “Geração alternativa (antilogia poética potiguar)”, organizada pelo escritor J. Medeiros e editada em 1997. Participou, depois, de uma coletânea macauense de versos, chamada “A escola de Macau”, e publicada em 2003. Em 2012 lançou seu livro de poemas “A Torre Azul”. Tem prontos, ainda a serem publicados, os livros de poesia “Caderno do Imaginário” e “Sou de Deus”.
FONTE - BLOG JOÃO MARIA

AMLA - DISCURSO DE POSSE





Autoridades presentes à mesa,
Caros confrades,
Senhoras e senhores!

                        Aqui realizamos um sonho, ou despertamos para realizar um sonho! Aqui e agora! Não um sonho qualquer, um sonho particular  -  desses que sempre nos surgem ao longo dos dias, sob a luz do sol ou das estrelas  -, mas um sonho de muitos sonhos, de legítimos e adotivos filhos desta terra, um sonho de muitas vozes, de ontem e de hoje, um sonho sonhado por uma cidade entre o céu e o mar, conhecida, para usar a expressão carinhosa de meu amigo e poeta Diógenes da Cunha Lima, como “luzeiro de talentos multiformes nas artes e nas letras”.

                        Mas como se realiza um sonho, como se depura a vigília de suas impossibilidades, como nela agregamos a argamassa concreta da vida trazida do que nos parecia insondável, para, enfim, nos depararmos com o rosto do novo ser?

                        Para Deus, foi fácil: bastou que sonhasse e pronunciasse  “Fiat!”, “Faça-se!”, e tudo se fez. Entretanto, para nós, mortais  -  ou imortais, como queiram  -, todo ato de criação, mesmo o mais simples e bizarro, se desenvolve no suor e na complexidade, em acertos, desacertos e correções, e, ademais, se coletivo, na paciente tessitura dos múltiplos sonhos que aderem ao grande sonho comum.

                        Desta forma, aceitando o desafio ético e estético da missão, na perspectiva de acrescentar benefícios ao nosso Município e à região em que ele se insere, nos propusemos a construir a ACADEMIA DE LETRAS E ARTES DE MACAU, cujo artigo terceiro de seu estatuto assim define sua finalidade:

Art. 3°. A AMLA tem por finalidade desenvolver, promover e estimular a criação artística e científica em suas diversas modalidades de expressão, através da literatura, da música, das artes visuais e cênicas, da história e demais ciências, enfim das manifestações da cultura preferencialmente emanadas de autores, pesquisadores e artistas do Município de Macau-RN, promovendo a interação com entidades congêneres do Rio Grande do Norte, do Brasil e de outros países, bem assim preservar as tradições culturais de Macau e conservar seu patrimônio histórico, literário e artístico.


                        Neste ponto, porém, contamos com a inspiração e o amor a Macau, sempre presente em nossos corações e em nosso imaginário, e na reciprocidade deste amor, porquanto não esquecemos Macau nem Macau nos esquece.

                        Macau não esquece. Macau lembra seus filhos desta e das gerações anteriores. Lembra o seu mar, sua origem épica ao sair do ventre oceânico que também gerou sua mãe adotiva, a Ilha de Manoel Gonçalves. Lembra o céu de azul profundo, que lhe pertence e lhe protege. Lembra o vento Leste a tanger velas, nuvens, girassóis e cataventos, e o Nordeste, refrigério do mar que além de conforto lhe imprime esse ar de perenidade com que a vemos atravessar a noite dos tempos. Lembra o delta do Assu e o seu braço mais familiar, o Rio Salgado, onde às suas margens convivem sons e sombras de suas variadas épocas...  o que me fez compor esses versos, dedicando-os ao meu grande amigo e poeta Gilberto Avelino e ao meu irmão Graziani, em seu eterno recordar:

MOMENTO NO RIO

aqui não ouço mais os calafates
e os sons que encantavam
a terra prometida

não os escuto mais
não mais

as barcaças
à aragem sumiram do vento leste

restaram os velhos acordes da infância
o sonho que retorna
o momento imperecível da memória

e as águas.

                  
                        Sim, Macau também lembra constantemente a sua história, cujo principal protagonista e herói foi o seu povo, seus trabalhadores do mar, do sol e do sal. Nesse poema, cito apenas uma de suas categorias de trabalhadores, pelos sons ouvidos na infância: os desaparecidos calafates. Macau, porém, lembra todos e  -  vejam com atenção!  -   ainda os tem. Abram os olhos além desta sala, além deste tempo que nos prende e dizemos nosso, e verão ainda presentes, na alma da cidade, os estivadores, os barcaceiros, os alvarengueiros, os marítimos, os salineiros e todos aqueles que a construíram.

                        Com tanta força potencial, telúrica, histórica, humana, o destino de Macau se impõe. E o sonho que realizamos hoje aqui é apenas um exemplo, um pequeno exemplo do que guarda o tesouro macauense. Nada damos a Macau que ela não tenha. Exceto o sonho à luz do dia, movendo-o de sua realidade onírica à realidade da vigília.

                        Assim, não creio que tenhamos chegado tarde. Apenas levo os meus aplausos às irmãs Mossoró, Ceará-Mirim, Assu e São Paulo do Potengi, que, em nosso Estado, se nos anteciparam com suas Academias municipais.

                        Macau também não envelhece e o seu tempo se conta na Verdade, que inclui memória e renovação. Chegamos no Advento, e na lua nova, que amanhã inicia novo ciclo. E com a cidade em festa, celebrando sua fiel e secular padroeira, madrinha, mãe e rainha, Nossa Senhora da Conceição!

                        Chegamos, portanto, no tempo certo!

                        E para quem anota coincidências, no começo de tudo, em 10 de agosto passado, quando se deu o embarque destes corajosos argonautas do bem e da arte, amantes de Macau, em sua primeira reunião rumo ao dia de hoje, ocorria a célebre e tradicional festa de Nossa Senhora dos Navegantes! E certamente Nossa Senhora, a eleita de Deus, que é única, nos abençoa evocada nesses seus dois títulos, da maior estima e devoção dos filhos e filhas de Macau!

                        Portanto, o caminho está aberto e a pedra angular lançada. Destaco o pioneirismo, o impulso visionário e o esforço inaugural destes primeiros acadêmicos, as dificuldades vencidas, a união consolidada, o apoio da comunidade e a excelente recepção demonstrada nos contatos que tivemos com alunos e professores de escolas macauenses e com diversas personalidades de nosso Estado.

                        O caminho do conhecimento é árduo. Estamos nele, todos nós, pois é próprio da natureza humana a ansiedade de querer conhecer, desvendar mistérios ou até mesmo criá-los.

                        No meu poema “Claro/escuro”, digo:

“Desvendamos ou criamos ´mistérios?
Quem a vida perdoa é mais feliz?
Cada dia, a iluminação.
Cada noite, o esquecimento.”

                        Destaco a lúcida compreensão que os fundadores tiveram da importância, para Macau, desta Academia, como polo agregador e divulgador do conhecimento, capaz de desenvolver, promover e estimular a cultura, a criação artística e científica, em suas diversas modalidades de expressão.

                        Embora ausente, também merece nosso aplauso um desses ilustres fundadores, Cláudio Antônio Guerra, grande humanista e talentoso intelectual, com larga folha de serviços prestados a nossa querida Cidade, e a quem recentemente visitamos, eu e nosso amigo e  Vice-Presidente, Alfredo Neves. Doente, portanto impossibilitado de comparecer a esta solenidade de posse, mas à qual se faz representar, foi sempre um entusiasmado defensor da criação desta casa de cultura.

                        Ressalto e homenageio aqueles macauenses de nascimento ou adoção que no passado se destacaram nas letras e nas artes e hoje constituem fonte de inspiração para a nossa Academia, alguns deles nela figurando como patronos.

                        E ainda nesta pagina final, mais uma palavra ao coração, para reverenciar alguém muito especial na história da educação de nosso Município e que se tornou, pela sua profunda contribuição como educadora, uma legenda entre nós, a Professora Anaíde Dantas, que não apenas nos ensinou História Geral e do Brasil, mas a história e o exemplo da consagração ao ensino!

                        O anseio pelo conhecimento é próprio da natureza humana. E dele jamais poderemos desistir, mesmo sabendo-o incomensurável, porque imprescindível ao aperfeiçoamento da vida social e ao próprio viver individual. Trazendo-o para o nosso meio, disseminando-o, cumprimos uma relevante função social.

                        Ademais, é inegável a importância da arte para a humanidade. A arte cumpre uma função ontológica importante ao justificar, estética e filosoficamente, a existência humana. Nesse sentido, costumo repetir o que disse certa vez Schopenhauer: “A arte justifica o sofrimento da vida.”

                        Tem-se, ainda, que a alma humana é maior que seus desafios. E seu otimismo é criador, o que me faz lembrar Fernando Pessoa, na admirável síntese desses versos geniais (e tão conhecidos) de seu poema “Mar Português”:
“Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.”

                        Dessa forma, creio ser consenso que a entidade ora criada deva abster-se do isolamento, e, ao contrário, seguir a o caminho da luz, interagindo com a comunidade e mantendo constante diálogo com as demais entidades do Município, sobretudo com aquelas voltadas à educação e à cultura.

                        Aliás, LUZ se propõe a ser a jovem ACADEMIA MACAUENSE DE LETRAS, quando escolhe a luz para sua divisa e a insere em seu lema, na expressão poética da palavra LUME, claridade, e a contextualiza na beleza inexcedível da ilha mãe, entre mar e céu: LUMEN INTER MARE ET CAELUM (LUME ENTRE MAR E CÉU).

                        Enfim, saúdo o acolhimento amoroso que nos dá Macau, como um berço, como nesses versos que lhe dedico e que, partindo de sua gênese, a Ilha de Manoel Gonçalves, vão afinal captar a sua essência, a sua generosidade maternal:

ILHA DE MANOEL GONÇALVES

Se perguntarem por você
direi que você não mais existe
a Gamboa das Barcas virou mar

Mas em Macau há um retrato seu
uma cruz e uma espada
um veleiro e um santuário

E sempre haverá um berço
para acolher e embalar sonhos
de filhos pródigos, viajantes
e náufragos do tempo.

                        Acolhei, pois, Macau,  este nosso sonho, que é vosso!
                                               -  Horácio Paiva, presidente da AMLA  -
FONTE – UBE-RN

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